Olá olá!
Hoje eu estava procurando umas fotos antigas no meu HD pra fazer umas edições quando achei várias fotos de páginas de livro grifadas. Decidi então, ler e dentre elas achei uma que tinha uma passagem interessante. É do livro O poeta que fingia de Álvaro Cardoso Gomes, um paradidático que li há um tempo para fazer uma prova da escola. Senti uma nostalgia de quanto estava lendo esse livro e escrevia os poemas e as frases dele por todo canto. Então fui pegá-lo na minha estante e decidi que seria um bom assunto pra escrever aqui.
O livro conta um pouco da história de Fernando Pessoa, poeta e escritor português. O autor intercala na narraçao duas histórias que se cruzam a partir do meio do livro, a de João Fernando, um menino que tem a vida sofida e solitária após a morte da mãe. E de Fernando Pessoa que tem seus magníficos poemas descritos ao longo do livro e sua incrível história contada de uma forma bem sutil e informal.
Os primeiros poemas lidos já foram necessários para que eu me apaixonasse completamente por esse gênio moderno e me identificasse com sua "solidão" aos escrever os poemas. É um livro que eu gostei bastante então provavelente as próximas postagens serão fotos dos poemas (haha)
E foi assim o meu primeiro contato com Fernando Pessoa:
Na época me lembro que tínhamos que escolher um poema e representá-lo na aula de literatura, o que eu escolhi foi O meu olhar é nítido como um girassol de Alberto Caeiro (cê sabe, né? O heterônimo). E então eu e minha amiga Nathalia representamos o olhar poético com uma placa nítida, ou seja que dava pra ver do outro lado e o olhar pensante com uma placa que o papel era embaçado. Assim ao tempo que o narrador declamava eu ia desenhando na lousa atrás das duas placas e colocando objetos também. Aí ficou bem mais fácil entender o que o autor quis dizer com essa poesia que no caso, é a minha preferida.
II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
O mais legal do livro é o modo como você se identifica tanto com a inocência de João Fernando ao aprender coisas novas com Fernando Pessoa, tanto com o próprio poeta em cada coisa que fala, ou que faz. Um livro que adorei ler, que me senti realmente próxima dos personagens e que indicaria para qualquer um.
"Na realidade – pensava -, o João Fernando, como o comum das pessoas, incorria no engano de pensar que os poetas costumavam apresentar em seus poemas somente sentimentos verdadeiros. Se estivessem sob domínio de uma grande paixão, escreviam sobre o amor, se se sentissem infelizes, só podiam escrever sobre a dor, e assim por diante. Por que não podia ser o contrário disso tudo? Afinal, os poetas não tinham aquele dom fantástico de imaginar o que quisessem? De representar até dores e sensações das mais diversas, mesmo que fossem vvvvvv aquelas experimentadas por outras pessoas?
- O poeta finge tão completamente eu chega a fingir que é dor a dor que deveras sente – repetiu em voz alta os versos do poema que vinha compondo. Isso, para espanto de alguns passantes, que fitaram curiosos, aquele homem que andava apressado e falando sozinho."
-Luana Cunha