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Um dia qualquer...

Aqui, olhando a vida passar como já fiz tantas vezes, mas cada vez é única e singular. A sutileza de sentir a brisa como se a quisesse guardá-la , para abrir esse momento nas horas mais difíceis da vida. Esse sentimento de paz que me invade ao respirar esse ar, que me transborda de uma série de sentimentos, ou talvez essa seja a chave, o lance : é o único momento em que penso não sentir nada. E quando você para, no seu silêncio , de solidão e talvez total contentamento com a vida que leva e só deixa o exterior fazer contato com o interior.

Como quando você está no banho e deixa a água cair em seu rosto simplesmente fecha os olhos e deixa a pele sentir. Escorrer sobre você a pura sensação de liberdade. Como quando no êxtase do momento você põe a cabeça pra fora da janela do carro em movimento e só deixa o vento desenhar no seu rosto, linhas do tempo. Quando você fecha os olhos, deixa tudo escurinho, só aí é que você vê que mesmo de olhos fechados você continua tão bonito. Tão feliz. Tao liberto de qualquer sensação que te ponha do seu lado de fora. Talvez o silêncio seja apenas a melhor forma de se conhecer. Quando tu para e deixa fluir.

Agora, como já aconteceram algumas vezes estou sozinha, ouvindo o passar conjunto dos carros abaixo na avenida. Só ouço isso. Só ouço vida. Rotineira e cansativa. Como instinto, desenho letras que me libertam . escrevo para mim, por mim. Olhando o rabiscar da caneta, o enrolar do fitilho rosa ao seu redor que está preso a uma florzinha doce na ponta. Reparo o modo involuntário como giro a caneta enquanto escrevo. Minas mãos delicadas, unhas brancas que remetem paz com um toque de vermelho em francesinha faz apologia ao amor (que é bom de vez em quando) cintilam na luz fraca que se mistura com a iluminação natural que invade a sala, quase pouca, já no fim de mais um dia que poderia ser esquecido como qualquer outro.

Meus pés estão para cima de um banco e agora começa a exalar um cheiro de cigarro no ar. Deve ser a mulher do andar de cima, tentando se livrar da tensão rotineira. Me recordo da Europa e minhas histórias. Ah como isso me traz saudades!!!

Estou liberta de qualquer pensamento, meu coração bate tranquilo, laçado. Ele bate por alguém, por mim. Por mais que tenha um dono atualmente. Ouso dizer que o único dia na vida em que me senti mais liberta que hoje, foi o dia em que eu entrei no chuveiro pela primeira vez em casa, depois de ter cortado meu cabelo. Eu me senti tão eu. Tão completa, tão segura. Me senti liberta de amarras e tabus sociais. Ou qualquer tipo de dependência de algo.

Me sinto feliz. Me sinto satisfeita.

Feliz

Estou exatamente onde eu queria estar.


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